sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Realismo como uma teoria de Educacao

Índice
Índice. 1
1. Introdução. 2
2. Realismo como Teoria de Educação. 3
2.1 Noção de Realismo. 3
2.2 Noção de Educação. 3
2.3 Realismo Antigo. 4
2.4 Realismo Medieval 4
2.5 Realismo Moderno. 5
2.6 Realismo Contemporâneo. 7
2.7 Objectivos gerais do Realismo Educacional 8
2.8 O currículo geral do Realismo Educacional 8
3. Conclusão. 9
Bibliografia. 10

Por Hermínio Nhantumbo[1]
1. Introdução
O presente trabalho de pesquisa científica, inserido na disciplina de Filosofia de Educação, visa essencialmente abordar o Realismo Educacional começando pela antiguidade Clássica (Aristóteles), e seguindo pela Idade Média (São Tomás de Aquino), Idade Moderna (Francis Bacon, John Locke, Rousseau, Pestalozzi, Herbert, Spencer, Froebel) até a Idade Contemporânea (Whitehead, Russell e Maria Montessori).
Neste contexto, é nossa tarefa saber: Quais são os contributos que o realismo educacional trouxe para o progresso do sistema educacional.
Neste sentido, o objectivo desta abordagem é compreender, sobretudo, como é que o realismo encara a educação e que tipo de currículo propõe.
Para a concretização deste trabalho, usamos os métodos: racional, (que nos permitiu abstrair com vista a encontrar os fundamentos filosóficos do realismo educacional) análise comparativa (que nos permitiu estabelecer uma analogia ou comparação do realismo ao longo das varias Idades) e a hermenêutico, (que visou interpretar e compreender os textos que tornaram possível este trabalho).
Assim, o trabalho está estruturado da seguinte forma: Introdução (onde de forma breve resumimos o assunto a tratar); Desenvolvimento (que contém o Corpus do texto propriamente dito, onde merecem destaquem as várias fases por que o realismo passou, suas características e suas finalidades) e a Conclusão (onde damos o nosso contributo em relação ao que se percebeu durante a viagem feita ao mundo do realismo educacional).

2. Realismo como Teoria de Educação
O realismo é uma filosofia complicada porque existe muitas variedades, tais como: realismo clássico, científico, literário, educacional, etc.
Porém, nesta abordagem nos ocuparemos do realismo educacional como um dos tantos sistemas tradicionais do pensamento, datado de Aristóteles e reformulado, reinterpretado em quase todas as épocas.

2.1 Noção de Realismo
De uma forma geral entende-se por realismo “a corrente literária e estética, segundo o qual o escritor e o artista devem representar o real tal qual é, isto é, sem o idealizar” (Neves, Maia e Baptista, 2001: 210).
Os principais princípios do realismo resumem-se nos seguintes: A matéria ou objectos que nós vemos existem absolutamente. O mundo existe em si e é uma realidade, independente de o Homem conhecê-lo ou não as coisas que nele existe. O mundo dá muitas evidências de que existe uma ordem por detrás dela que a organiza (cf. Akinpelu, 1991: 137).
Na sua epistemologia, o realistas provam ou defendem que desde a existência do mundo, a matéria sempre existiu e é possível um conhecimento objectivo acerca deste. Para eles, o processo do conhecimento é uma resposta da mente às impressões que foram obtidas no exterior através da sensibilidade (cf. Id.: 138).
Assim, realismo quer significar a adequação do pensamento com a realidade exterior à mente Humana.

2.2 Noção de Educação
Para os realistas, a Educação é um processo ou sentido de desenvolver as capacidades do homem e habilitá-lo para conhecer a verdade a cerca da matéria (cf. Id.: 139).

2.3 Realismo Antigo
Aristóteles (384-322 a.C.) parte do princípio de que “nada vem à mente sem antes ter passado pelos sentidos”, isto é “nenhum conhecimento era inato” Por isso mesmo que para ele, o “objectivo da educação era dirigir a nossa razão para superar as falsas indicações dos sentidos, desvendando, no mundo, a essência das coisas por cima da ilusão das aparências” (Cotrim e Parisi, 1985:111).
Por esta razão que a educação em Aristóteles vai incidir mais na investigação dos fenómenos da natureza, através das disciplinas curriculares como a biologia, a física e a astronomia (Ibid.)
Segundo este filósofo clássico, para o desenvolvimento de uma boa educação é necessário ter em conta as três ideias essenciais: a primeira ideia diz respeito a natureza do educando que, por razões de ordem biológica irá condicionar o comportamento do aluno (virtudes e deficiências), que deve ser compreendido e respeitado pelo professor. Aqui, o programa de ensino deve ser elaborado com bases nos aspectos acima mencionados; a segunda ideia refere a formação de bons hábitos que visa combater os desejos instintivos e irracionais como por exemplo dormir excessivamente, ociosidade, etc.; a terceira ideia diz respeito ao desenvolvimento da inteligência e da razão, pois, são estas as faculdades mais importantes do Homem. Para tal, é necessário um programa de ensino que proporcione o treinamento e a disciplina mental (cf. Id. 1985:111-112).
Assim para Aristóteles, a razão é o caminho mais sublime e seguro para a solução dos problemas que nos apoquentam.

2.4 Realismo Medieval
Na idade média, o representante do realismo educacional é Santo Tomás de Aquino (1225-1280), um neoaristotélico.
Com relação ao ensino, Santo Tomás de Aquino “insiste na participação que o educando deve ter em sua formação física e espiritual”, pois para este autor “Deus é o verdadeiro mestre que ensina dentro da nossa alma, porém sublima a necessidade de uma ajuda exterior”, isto é, “Deus nos infunde no entendimento os princípios fundamentais, contudo, as implicações desses princípios, as deduções que deles se originam, são obra humana e da experiência” (Brandão, 1981: 86).
Neste processo, o papel do professor é de ajudar a actualizar o saber que já se encontra potencialmente contido no educando (Ibid.).
Assim, para Aquino a educação primária deve ser da alma humana (cf. Ozmon e Craver, 1981: 47).
Por tanto, tanto Aristóteles, como Aquino influenciaram para uma doutrina dualista da realidade, pois em Aristóteles o mundo é composto por matéria e forma e, em Aquino o Homem é composta por matéria e espírito.

2.5 Realismo Moderno
Francis Bacon (1561-1626) inicia com o realismo moderno, sobretudo no que diz respeito ao uso do método indutivo (um método que acrescenta um novo conhecimento, na medida em que parte do particular ao geral) “através do qual o próprio aluno chega à descoberta do conhecimento, ao estudo da natureza e a preocupar-se com a sistematização dos procedimentos didácticos” (Brandão, 1981: 109).
Por sua vez, John Locke (1632-1704) também dá a sua contribuição na educação. Com ele o realismo torna-se numa corrente de investigação a cerca do pensamento humano, pois, parte da seguinte questão: donde vem o conhecimento se o homem não possui ideias inatas? Para este as ideias derivam da experiência por meio da sensação e reflexão e a educação vai consistir na apreensão dos dados sensíveis pelo aluno no seu quotidiano (cf. Ozmon e Craver, 1981: 49-50).
Para Locke, as ideias educacionais são práticas a cerca da conduta, ociosidade, recompensa e castigo e outros aspectos do processo educativo. As ideias de Locke pretendem formar um Homem cavaleiresco ou cortês (Id.: 50).
Contudo, o realismo conhece novos momentos com as contribuições do francês Jean Jacque Rousseau (1712-1778), pois pela primeira vez na história da educação, a criança deixa de ser vista como uma adulta em miniatura.
Esta nova visão faz com que Rousseau conceba a sua educação partindo do princípio de que “o Homem nasce bom: é a sociedade que o corrompe” Assim para que a educação tenha sucesso deve ocorrer a margem da sociedade, e só depois do aluno estar imunizado é que poderá ser reintegrado na sociedade (cf. Mondin, 1981: 164-165).
Esta educação tem em vista reconduzir a “humanidade ao novo estado de natureza (...) no qual o homem age não segundo a liberdade do instinto desordenado, mas segundo a liberdade do instinto disciplinado da lei” (Id.: 165). Por está razão que a consciência moral, na visão de Rousseau, “reside no instinto (impulso inato para o bem), pois” diz ele, “a única fonte de males é a pressão social” (Dias, 1972: 160).
Em Rousseau, a educação começa com o desenvolvimento das faculdades sensitivas (que visa aprender a julgar bem as coisas através dos órgãos dos sentidos), seguido pela educação da razão (por volta dos 15 anos, que visa estimular o espírito de pesquisa autónoma).
Por tanto, a educação em Rousseau começa pelos dados sensíveis e evolui aos dados suprasensíveis.
As ideias de Rousseau influenciaram John Pestalozzi (1746-1827) que proclamava a democratização da educação. Herbert (1776-1841) vai criticar toda e educação naturalista e Spencer (1820-1903) volta a seguir a linha natural.
Froebel (1782-1852) na sua obra: The Education of Men vê o universo como uma unidade, com Deus como seu coração e espírito movente. Para ele, todas as coisas tem um elemento divino em si e este elemento é que une ou é a unidade de todas as coisas. Nesta perspectiva, Froebel vê a educação como o desenvolvimento completo do homem como um sujeito individual e parte duma sociedade. Para este, o objectivo da educação é de desenvolver de forma integral a personalidade inteira em si e integrante numa sociedade (cf. Akinpelu, 1991: 62).
Froebel dividiu a vida do homem em quatro estágios ou fases: a infância, a criança, a adolescência e a fase adulta. Cada fase corresponde a uma inteira entidade, mas ainda em preparação para o estágio seguinte até superior. A infância e a fase de criança são para Froebel os mais importantes para uma educação repleta de sucesso, pois, é muito fácil moldar alguns comportamentos negativos do educando (Ibid.).

2.6 Realismo Contemporâneo
O realismo contemporâneo tem tendências para desenvolver uma forte preocupação a cerca da ciência e problemas científicos de natureza filosófica (cf. Ozmon e Craver, 1981: 50).
Dentre as figuras do realismo contemporâneo figuram Alfred Whitehead (1861-1947) e Bertrand Russell (1872-1970). O primeiro direcciona a sua filosofia com vista a encontrar um modelo universal, o segundo caminha o seu pensamento à quantificação matemática e verificação como base para generalizações filosóficas (Id.: 51).
Whitehead descreve três fases primárias: primeira é a fase do romance, (abaixo dos 14 anos) onde a actividade educacional da criança é caracterizada pela descoberta das coisas através do questionamento às pessoas entendidas na matéria; segunda é fase da precisão (dos 14 aos 18 anos) e caracteriza-se pelo estudo específico do conhecimento particular e, finalmente, a fase das generalizações (dos 18 aos 22 anos) onde o estudante torna-se num indivíduo efectivo e capaz de lhe dar com o experiência imediata e adquirir os principais conhecimentos para a vida (Id.: 60).
Maria Montessori (1870-1952) deu, também, o seu contributo para o desenvolvimento do realismo contemporâneo. As suas contribuições incidiam na ideia segundo a qual a tarefa da educação é preparar a criança para que seja livre. Para tal, é indispensável que a criança consiga autonomia mediante a aquisição de níveis progressivos de independência física e afectiva, o que implica auto-estima e independência de vontade e pensamento (cf. Montessori et al, 2003: 30).
Montessori sublinha que a criança domine seu entorno, que aprenda a manejar o material, a buscá-lo, colocá-lo em seu devido lugar, ordená-lo e preservá-lo, deslocar o mobiliário se for necessário, limpar a classe, procurar informações nos livros, etc., e assim ela vai aprendendo a se desenvolver sem a ajuda do adulto. Para que isto se materialize ela recomenda que a criança brinque num espaço amplo e ambientalmente saudável e que o professor tenha um espírito científico e uma disciplina profunda (Ibid.).

2.7 Objectivos gerais do Realismo Educacional
O objectivo último da educação realista é obter o conhecimento acerca da natureza e o funcionamento interno e secreto do universo, para que o aprendiz conscientemente ajuste, para si mesmo, o que é real. Esta educação ajuda o homem a formar hábitos, disposições, e tendências para pesquisar a verdade, alcançá-la, possuí-la e usá-la em diversos aspectos da sua vida. Para além da natureza, a cultura também contém tal verdade que foram acumuladas em tempos e contém a melhor sabedoria, prudência das gerações passadas (cf. Akinpelu, 1991: 139).
Acima de tudo a educação realista visa essencialmente a liberdade da pessoa humana, com vista a tornar-se autónoma e responsável pelos seus actos.
2.8 O currículo geral do Realismo Educacional
Para os realistas, as disciplinas do currículo devem ter como conteúdos os elementos da cultura (excepto Rousseau que defende um currículo baseado na natureza). Esses elementos culturais devem ser estudados e fazer parte da existência do próprio aluno. Assim, a educação passa a ser a transmissão específica de elementos culturais e subsequente crescimento das habilidades da criança para o aprendizado futuro (cf. Id.: 139).
De acordo com os realistas, o currículo é essencialmente o espelho completo da cultura de uma sociedade, reduzida a medida e expresso em diferentes disciplinas e objectos de estudo. Assim, cada disciplina é uma quarta parte da cultura É nesta perspectiva que o conteúdo do currículo realista deve consistir em literatura e aspectos numéricos que vão habilitar o aluno a se introduzir nesses aspectos da cultura (Ibid.).
Para os realistas, o programa geral é muito importante para a educação, pois é dela que sai a educação vocacional e a educação para a vida ou sobrevivência.

3. Conclusão
Depois desta abordagem em torno do realismo educacional, convém tecermos algumas considerações.
No que diz respeito aos objectivos da educação, o realismo educacional visava: criar uma educação baseada em conhecimento prático e essencial; desenvolver os poderes racionais ao máximo para que o homem tenha uma vida próspera; desenvolver habilidades técnicas e produzir especialistas e cientistas e ensinar as práticas educativas e os conteúdos essenciais com vista a conduzir a algo além delas próprias, ou seja, proceder da matéria à forma, da imperfeição à perfeição.
No que respeita ao método, os realistas enfatizam o método da razão critica, expositivo auxiliado pela observação e experimentação. Entram neste leque de métodos, o método dedutivo (Aristóteles) e o indutivo (Bacon).
O currículo do realismo valoriza os aspectos físicos (órgãos dos sentidos para apreender os dados sensíveis relativos a realidade exterior objectiva) e mentais (a razão que procura abordar tais impressões de maneira sistemática e organizada) do aluno.
Neste processo educativo, o papel do professor é de apresentar o conteúdo de uma forma organizada com vista a promover, no aluno, a ideia da possibilidade de usar critérios definidos para se fazerem julgamentos a respeito da arte, da economia política e da ciência, enquanto que ao aluno cabe o papel de ser inventivo, ter boa memória, boa conduta, autodisciplina, rigorosidade, dedicação aos estudos e uma mente saudável.
Com o realismo temos a oportunidade de conhecer uma grande parte da história da educação, pois ela é uma corrente que inicia na antiguidade clássica e progride até aos nossos dias. O seu contributo ao nível da educação foi, não só, de ver a criança como tal, mas também tomar o ensino e aprendizagem como um processo que segue uma linha ascendente partindo do conhecido ao desconhecido, do concreto ao abstracto.


Bibliografia
AKINPELU, J.A., An Introduction to Philosophy of Education. London: Macmillan, 1991.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues, O que é Educação. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.
COTRIM, Gilberto e PARISI, Mário, Fundamentos da Educação: História e Filosofia da Educação. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 1985.
DIAS, Rui dos Anjos, Filosofia. Coimbra: Livraria Almeida Editora, 1972.
MONDIN, Baptista, Curso de Filosofia: Os Filósofos do Ocidente.vol.2, 2ª ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1981.
MONTESSORI, Maria et al, Pedagogias do século XX. Porto Alegre: Artimed, 2003.
NEVES, Pedro A., MAIA, Cristina e BAPTISTA, Dalila, Clube de História.8º ano, Porto: Porto Editora, 2001.
OZMON, Howard A. and CRAVER, Samuel M. Philosophical Foundation of Education. 2nd ed., USA: Bell end Howel Company, 1981.

[1] Autor do trabalho apresentado num seminário na UP em 2008

2 comentários:

Unknown disse...

Boa tarde meu caro Filosofo, gostei muito da forma como reflectes acerca deste tema que em si e complexo e historico. Nao mais me resta dizer senao desejar que continue a fazer reflexoes desta natureza para deliciar aos leigos com a sua sapiencia.

Miller A. Matine disse...

Uh! Ja postaste este trabalho? Abraxos