quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Provas de Existencia de Deus em Descartes e Kant

Índice
Índice. 1
1. Introdução. 2
2. As provas de existência de Deus em Descartes e Kant 3
2.1 As Provas de existência de Deus em René Descartes. 4
2.2 As Provas de existência de Deus em Immanuel Kant 5
2.3 Possível relação entre os pensamentos de Descartes e Kant 6
3. Conclusão. 8
Bibliografia. 9

1. Introdução
O presente trabalho de pesquisa científica, inserido na disciplina de Filosofia de Religião, visa essencialmente abordar as provas de existência de Deus na visão dos filósofos modernos René Descartes (1596-1650) e Immanuel Kant (1724-1804). Todavia é importante esclarecer que a tentativa de provar racionalmente a existência de Deus remonta a Aristóteles que discutia num tom de abordagem um pouco diferente a de estes filósofos. Em Descartes a prova Ontológica é a ideal para se provar a existência de Deus, enquanto que para Kant é impossível conhecê-Lo, embora ele acredite em tal existência.
Neste contexto, é nossa tarefa saber: Como é que estes filósofos constroem o seu pensamento com vista a provar a existência de Deus?
Para a concretização deste trabalho, usamos os métodos: racional, (que nos permitiu abstrair com vista a encontrar os fundamentos desta abordagem) e a hermenêutico, (que visou interpretar e compreender os textos que tornaram possível este trabalho).
Assim, o trabalho está estruturado da seguinte forma: Introdução (onde de forma breve resumimos o assunto a tratar); Desenvolvimento (que contém o Corpus do texto propriamente dito, onde merecem destaquem a visão de Descartes que parte do Cogito, ergo Sum até a prova de Deus, e de Kant que refere que é impossível conhecer o numéno e que, portanto é também a partir dos três argumentos provar a existência Deus) e a Conclusão (onde damos o nosso contributo em relação ao que se percebeu durante a viagem feita ao mundo cartesiano e kantiano).

2. As provas de existência de Deus em Descartes e Kant
Antes de entrarmos na teodicéia Cartesiana e Kantiana, importa referir que por Deus se entende o “objecto supremo e sobrenatural dos pensamentos, das crenças e das práticas que constituem a religião”, enquanto que por existência entende-se “estar a par de, surgir fora de...” (Legrand, s.d.: 118-161).
É pertinente, também, referir que as provas de existência de Deus podem reunir-se em três grupos distintos, a saber: Prova Ontológica (baseado na ideia de ser perfeito); Prova Cosmológica (baseado no princípio segundo o qual a existência, o movimento e a ordem do mundo externo supõe a existência de Alguém que seja a causa de tais factos) (cf. Dias, 1972: 235); e a Prova Teleológica (segundo a qual a ordem existente no mundo pressupõe uma mente ordenadora que se chama Deus) (Mondin, 1981: 185).
Nesta perspectiva é preciso salientar que há três atitudes possíveis que o Homem pode tomar quando a questão diz respeito à existência de Deus: de Afirmação (os teístas ou crentes); Negação (os materialistas ou ateus) e Não aceitação (os agnósticos, positivistas ou indiferentes) (cf. Dias, 1972: 233).
Neste sentido, o ponto a seguir aborda detalhadamente como é que os autores supracitados abordam a questão da existência de Deus e em que perspectiva se enquadram.

2.1 As Provas de existência de Deus em René Descartes
O ponto de partida seguro que Descartes toma é a dúvida metódica, como sendo “aquela que põe de parte sucessivamente todas as ideias em que a dúvida seja possível, até encontrar uma cuja clareza e distinção sejam tais que perante ela a dúvida se torne de todo em todo impossível. O fim último da dúvida metódica é alcançar a verdade” (Descartes, 1986: 21).
Esta dúvida metódica, por sua vez, leva a um ponto de apoio: o cogito que tem como alavanca o método, ou seja, o pensar é que dá certeza da sua existência como ser pensante (Id.: 22-23).
A questão cartesiana é: como se pode estabelecer a ponte entre o Cogito e o mundo que o rodeia?
Para ele, a única saída para se resolver este problema está na ideia que ele tem de um ser absolutamente necessário. É a partir dessa ideia que Descartes chega a existência real de Deus (cf. Id.: 24), uma vez que para Descartes a existência de Deus “pode ser provada, além do processo indutivo, também pelo dedutivo, mediante um raciocínio ontológico. Basta examinar a ideia de perfeito que (...) está presente em nossa mente pelo próprio facto de nos reconhecermos imperfeitos” (Mondin, 1981:73).
A ideia inata de um ser absolutamente perfeito foi introduzido na sua mente ou alma a partir de fora por Deus. Por tanto, a justificação da existência humana não esta nele próprio mas, fora dele, no ser absolutamente perfeito, denominado Deus.
Por esta razão que Descartes para provar a existência de Deus usa o argumento Ontológico que parte do ser perfeito em direcção as criaturas imperfeitas.
Com este argumento Descartes arranja “um ponto de apoio para sustentar a veracidade do conhecimento (...)”, pois algumas ideias “encontram-se garantidas pela própria veracidade de Deus” (Descartes, 1986: 25).
A questão cartesiana é: como é possível a existência do erro no pensamento humano, enquanto existe Deus? Para este autor, o erro é possível quando o homem não “procede de acordo com a sua natureza, isto é, por ideias claras e distintas” e quando há “abuso da liberdade” (Id.: 30).
Descartes afirma que o homem “tem a capacidade de atingir a verdade”, mas quando “se trata de afirmar tal capacidade, relativamente ao mundo exterior, tem de haver o recurso a um elemento exógeno, concretamente a Deus” (Id. 31-32).
Ele chega a esta conclusão porque parte do principio de que o homem “não é uma unidade compostas de alma e corpo” mas sim “o homem é puro espírito” Id.: 32).
Por tanto a razão humana pode provar que Deus existe.

2.2 As Provas de existência de Deus em Immanuel Kant

Kant parte do princípio segundo o qual: se existe algo, seja o que for, tem de admitir-se também que algo existe necessariamente, pois, o contingente só existe sob a condição de uma outra coisa que seja sua causa e o mesmo raciocínio se aplica, sucessivamente, até chegar a uma causa que já não seja contingente e que por conseguinte, exista necessariamente sem condição. É sobre este argumento que a razão baseia o seu progresso para o Ser originário (Kant, 2001: 495-496).
Nesta perspectiva, Kant explica que a razão procura o conceito de um ser a que a contenha uma prerrogativa de existência, como necessidade incondicionada “ (…) para encontrar entre todos os conceitos de coisas possíveis, aquele que não implique nada que repugne à necessidade absoluta, pois que, mediante é certo e seguro para a razão que deve existir algo absolutamente necessário (Id.: 496).
Por isso mesmo que a “razão conhece um ser como incondicionado mediante um conceito a priori”, que seria “aquele que (…) conviria melhor ao conceito de um ser incondicionalmente necessário” e que “tenha mais fundado direito a essa prerrogativa na existência” (Id.: 496-497).
Neste processo, a razão humana primeiro convence da existência de qualquer ser necessário, reconhecendo nesta, uma existência incondicionada. Nesta caminhada, a razão procura o conceito do que é independente de qualquer condição e encontra este naquilo que é, em si, a condição suficiente ou no que contem toda a realidade.
Por esta via, “a razão conclui assim que o Ser Supremo como fundamento originário de todas as coisas, existe de modo absolutamente necessário” (Id.: 497).
Neste âmbito, o Ser absoluto é uma entidade que contem toda a realidade e condição.
Kant coloca a seguinte questão aos seus opositores: “onde será mais legítimo colocar a causalidade suprema senão onde está também a mais alta causalidade”, ou seja, “no ser que contem originalmente em si a razão suficiente de todo o efeito possível e cujo conceito é também muito facilmente caracterizado mediante o traço único de uma perfeição que tudo abrange?” (Kant, 2001: 499).
Com esta abordagem Kant quis deixar bem claro que não há outro Ser supremo que se eleva acima de tal ser que é um meio e um fim em sim mesmo.
Bom, admitir a existência de Deus não é o mesmo que provar. O que Kant tem a nos dizer em relação a prova de existência de Deus?
Na opinião de Kant, “os argumentos com os quais a razão procura provar a existência de Deus são erróneos”, pois “nenhuma destas provas (Ontológica, Cosmológica e Teleológica) é válida, antes de tudo porque as duas últimas provas supõem a prova ontológica; dado que a prova Ontológica não procede, também elas não procedem” (Mondin, 1981: 185). Ou seja, “como a experiência é o limite do conhecimento humano, a razão não pode demostrar a existência de Deus” (Zilles, 2004 51).
Para Kant, estas provas não são válidas porque “a existência não é um predicado contido no conceito da essência de nenhum sujeito” (Mondin, 1981: 185).
Zilles questiona: negada “as provas de existência de Deus, Kant afirma que Deus não existe?. Para Zilles, Kant não nega a existência de Deus, mas sim reconhece os limites da razão humana, e refere que “o que não se pode provar pela razão pura torna-se um postulado da razão prática” (Zilles, 2004: 51-52).

2.3 Possível relação entre os pensamentos de Descartes e Kant
De um modo geral pode-se referir que enquanto que para Descartes Deus é que faz a ponte entre o homem e o mundo (garantindo assim a veracidade do conhecimento humano), uma vez que, Ele é um postulado necessário no seu pensamento, em Kant a apreensão do real tem inevitavelmente a marca do nosso espírito (cf. Descartes, 1986: 40-41).
Enquanto que Descartes recorre aos argumentos Ontológico (que parte da ideia do ser perfeito para a existência desse ser como causa de tal ideia) Cosmológicos (que parte da existência do imperfeito para a necessidade da existência do ser perfeito de quem aquele depende) para provar a existência de Deus (cf. Id.: 145), Kant “afirma que os juízos sintéticos a priori não são possíveis na metafísica” (que estuda alma, universo e Deus) (Zilles, 2004: 49).
Por outro lado, Kant “rejeita o argumento cartesiano fundado no conceito de universalidade da realidade mediante a distinção tradicional entre existência pensada e existência real” (Id.: 50).
Os elementos comuns destes autores é que as suas filosofias partem de uma teoria do conhecimento em direcção a provar ou não existência divina (cf. Id.: 46).

3. Conclusão
De uma forma geral podemos dizer que com Descartes inicia uma nova época: a modernidade, em que o homem passa a ser o centro de todos os debates. Como tal, o homem possui uma razão que através do qual pode provar racionalmente a existência de Deus. Esta mesma razão interpreta o mundo e funda argumentos (Ontológicos, Cosmológicos e Teleológicos) como prova de existência de Deus.
Kant como revolucionário da teoria do conhecimento (ao afirmar que as condições da possibilidade do nosso conhecimento face ao objecto está determinado no próprio sujeito deste conhecimento) nega todas as provas de existência de Deus porque para este, não é possível a razão elevar-se a tal ser supremo ao ponto de provar a sua existência. Para este não se pode inferir, a partir do pensar em alguma coisa, que tal coisa existe realmente.
Assim, embora Kant acredite na existência de Deus, reconhece os limites da razão humana em provar ou conhecer uma realidade numénica ou Deus.
Por tanto, em Descartes a razão humana pode conhecer Deus, enquanto que em Kant tal intenção é impossível.

















Bibliografia
DESCARTES, René, Discurso do método. 3ª ed., Portugal: Publicações Europa-América, 1986.
DIAS, Rui dos Anjos, Filosofia. Coimbra: Livraria Almeida Editora, 1972.
KANT, Immanuel, Critica da Razão Pura. 5ª ed., Lisboa: Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
LEGRAND, Gerard, Dicionário de Filosofia. Lisboa: Edições 70, s.d.
MONDIN, Baptista, Curso de Filosofia: Os Filósofos do Ocidente.vol.2, 2ª ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1981.
ZILLES, Urbano, Filosofia da Religião. 5ª ed., São Paulo: Paulus, 2004.

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