quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Crise da Modernidade em Nietzsche


1.Introdução. 2
2. Vida e obra de Frederich Nietzsche. 3
2.1. Crise da modernidade em Nietzsche. 4
2.1.1 Por que é que Nietzsche diz que a modernidade está em crise?. 5
2.1.2 Quando é que a modernidade entra em crise?. 6
2.1.3 Que propostas nos dá Nietzsche em relação ao término da crise?. 7
2.1.4 De que nos serviria à filosofia de Nietzsche para a superação de alguns males que enfermam à sociedade moçambicana?. 10
3. Conclusão. 12
Bibliografia. 13
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Apêndice. 14































Por Hermínio Nhantumbo[1]
1.Introdução
O presente trabalho de pesquisa científica, visa essencialmente abordar a questão da Modernidade, na visão do filósofo alemão Frederich Nietzsche. A questão fundamental de Nietzsche é a crise da modernidade, no seu aspecto moral e científico (A transmutação de todos os valores). Neste contexto, foi nossa tarefa saber: Quais são os fundamentos que legitimam Nietzsche a dizer que a modernidade está em crise, e/ou porque é que a modernidade está em crise? Quando é que ela entra em crise? Quais são os factores que aceleram a crise – a ciência ou a religião? Qual é a importância da filosofia de Nietzsche para o homem da sua época e para nós, ou seja, que contributos podemos colher dela?
Para a concretização deste trabalho, fizemos consultas bibliográficas em obras e manuais de filosofia com destaque aos seguintes livros: Filosofia de Kant à Nietzsche, de Alfredo Reis, O anticristo: um ensaio de uma critica do cristianismo, bem como, Crepúsculos dos ídolos ou como se filósofa as marteladas, escritos por Nietzsche.
Assim, o trabalho está estruturado da seguinte forma: Introdução (que tenta resumir o assunto tratado); desenvolvimento (que contém o Corpus do texto propriamente dito, onde merecem destaque as causas, os factores e as consequências da crise da modernidade em Nietzsche) e a conclusão (onde damos o nosso contributo em relação ao que se percebeu durante a viagem feita ao mundo nietzscheano).
O que deve ficar retido é: para Nietzsche a verdadeira filosofia reside dentro de nós, como ele próprio sustenta, “na própria ferida reside o próprio remédio”, que significa que o homem adquire o verdadeiro conhecimento dentro de si próprio.





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2. Vida e obra de Frederich Nietzsche
Segundo a obra de Alfredo Reis (1985), Frederich Nietzsche nasceu em 1844 no presbítero de Roecken, perto de Leipzig, na Alemanha. Foi filhos de pastores luteranos e com cinco anos de idade (1849), perde o seu pai e muda-se da sua cidade em Leipzig, juntamente com a sua mãe, para a cidade de Naumburg onde é educado num ambiente feminino de tias e avós e faz os seus primeiros anos de estudo num ginásio que ostentava o mesmo nome da cidade.
Em 1858 recebe uma bolsa para o ginásio de Schulpfort, onde recebe uma sólida formação humanista em Filologia[2] Clássica e torna-se membro de uma associação de estudantes (mas por pouco tempo), onde teve a oportunidade de ler a obra de David Strauss, intitulada: A vida de Jesus, e fica fascinado. Mais tarde, o mesmo autor escreve outra obra em que se reflecte as Influências de Charles Darwin[3], facto que contribui para a sua perda de fé na religião cristã.
Em 1865, Nietzsche volta a sua cidade Leipzig, juntamente com o seu professor, o Filólogo Ritschl que lhe incita a publicar o seu trabalho sobre: Teogonia de Mégara. Na mesma época Nietzsche toma o conhecimento da obra: O mundo como Vontade e como representação, do filosofo Schopenhauer, que lhe influência profundamente. No entanto, Nietzsche nota que a filosofia de Schopenhauer era carregada de um pessimismo extremo, pois afirmava que “não existe uma explicação racional do mundo”, facto que contribuiu para que Nietzsche ficasse decepcionado com o filósofo (Ibid.: 390).
Escreve um trabalho intitulado: Diógene Laércio, que é premiado em 1868 e em 8 de Novembro conhece o músico e filósofo R. Wagner, que lhe encanta como músico, mas lhe decepciona como filósofo, por este “caiu repentinamente desvalido e quebrantado aos pés da cruz cristã” (Id.: 370), acto que Nietzsche considera de fraqueza humana.
Em 1869, por recomendação do seu professor Ritschl, é nomeado professor na Universidade da Basileia, onde lecciona a disciplina de Filologia clássica e Grego na classe Superior do Paedagogium, onde a sua lição inaugural foi à 28 de Maio e versava sobre Homero e filologia Clássica. Uma das obras mais importantes e polémicas de Nietzsche foi: Origem da tragédia, que sofre severas críticas dos colegas filólogos com destaque a Wilamowitz Moellendorf e fica cientificamente apagado do campo da filologia. Escreveu também Also Sprach Zarathustra (Assim Falava Zaratustra), que fundamenta toda doutrina nietzscheana.
No entanto, Nietzsche cumpriu o Serviço militar (1867-1868) e na guerra de 1870 desempenhou a função de enfermeiro (aliás, para além de Filósofo e Filólogo foi Médico) tendo contraído desistiria e é dispensado. Depois de 10 anos, esta doença agrava-se e é dispensado da Universidade de Basileia em 1879. Por intervenção de seu amigo Overbeck, Nietzsche recebe uma pensão que lhe permite viver o resto dos seus dias com modéstia, e para tal procura viver climas amenos nalgumas cidades europeias como Engadine, Veneza e Turim, onde conhece uma jovem Russa (sua aluna), de nome Lou Von Salomé, com quem se casa.
Entre 1883 e 1888, Nietzsche escreve as últimas obras da sua vida e algum tempo depois teve a primeira crise de loucura na cidade de Turim e permanece num estado de apatia e prostração espiritual, até a sua morte em 25 de Agosto de 1900 (Ibid.).

2.1. Crise da modernidade em Nietzsche

Nietzsche vê o passado da Europa como sendo, “a história do erro mais prolongado” e, por isso, “ele” (Nietzsche) “é a negação que tudo discute (…) que faz crítica mais radical da ciência e da religião”. E neste contexto, Nietzsche é conotado “como crítico do passado e profeta do futuro (…) filho de uma época que se interroga a si mesma” (Id.: 373).
A questão que colocamos é: Não será contraditório afirmar que a crise da modernidade reside na época antiga? A resposta seria não: na medida em que a modernidade se fundamenta no Renascimento[4] – como sendo uma doutrina que volta às origens.
2.1.1 Por que é que Nietzsche diz que a modernidade está em crise?

No seu entender, “o democratismo sempre foi a forma de decadência[5]da força organizadora”, e neste contexto, “para que as instituições como Estado continuem a existir deve haver uma espécie de vontade[6], de instintos, de imperativos antiliberais, até a maldade” (Id.: 378).
Percebe-se claramente que Nietzsche está a fazer uma crítica, não a democracia[7] grega no geral, mas sobretudo a democracia proposta por Sócrates, Platão e Aristóteles – que encaminha o cidadão à morte, porque para estes, a verdadeira filosofia é aquela que ensina o homem a morrer (lembrem-se da cicuta que Sócrates tomou) – que dava muita primazia a razão em detrimento dos instintos.
Neste contexto, Nietzsche clama pelo retorno do Ocidente à antiguidade pré-socrática, [concretamente à representada por Tales (em que para ele tudo é água, e não há um ser Supremo), Anaximandro (no seu aforismo), Parménides (com o seu: Ser é e o não Ser não é), Anaxágoras, Empédocles, Demócrito e Heraclito (com o devir das coisas) – que fundamenta a doutrina nietzscheana de eterno retorno, que falaremos mais adiante][8], pois, “todo o Ocidente já está carecido daqueles instintos de que nascem as instituições, de que nasce o futuro (…) o instinto de valores dos nossos partidos políticos, dos nossos homens políticos, que instintivamente preferem aquilo que decompõe, que acelera o fim” (Ibid.).
Assim, para Nietzsche é urgente, em contraposição ao homem carenciado de instintos, “conceber o homem de génio como sendo possuidor de uma vontade `concentrada’, enorme, segura cujo fascínio mágico arrasta, numa admiração sem resistência, a multidão dos homens” (Id.: 378-379). Neste âmbito, Nietzsche critica, também, a época Medieval, pois, para ele, “bloqueou o aparecimento de grandes homens que provocassem um renascimento cultural”. Para Nietzsche a modernidade entra em crise, ao longo do seu caminho percorrido desde a antiguidade clássica, pois, “foi um caminho errado” (Id.: 379).
Assim, propõe a ideia de decadência, em vez do optimismo racionalista do progresso, porque o percurso do homem, cujo princípio está fundamentado na filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles, não é bom, mas sim muito mau.

2.1.2 Quando é que a modernidade entra em crise?

Na sua obra: Origem da tragédia, Nietzsche refere que a tragédia é a “ilustração da sabedoria dionisíaca[9] através de processos artísticos apolíneos[10]”, isto é, “o trágico é a elucidação apolínea do dionisíaco” (Id.: 380-384). Neste contexto, um dos efeitos da tragédia, era de “possibilitar a redescoberta da unidade do homem com a natureza”, mas por outro lado fornecia, também, “um fundamento ético”, bem como “mostrar ao homem que o prazer e a dor são duas dimensões essenciais e naturais da vida”, e que a “visão trágica consiste na compreensão destas contradições” (Id.: 384).
Pode-se perceber que a modernidade entra em crise quando volta a dar primazia ao racionalismo clássico e busca fundamentos em valores supremos (Deus), trocando em miúdos, na busca incessante de uma verdade nunca antes encontrada. Assim percebemos que Nietzsche chama atenção ao homem para voltar a valorizar os valores terrenos e que toda à resolução dos seus problemas só podem ser resolvidos pelo próprio homem. E para fundamentar a nossa posição, importa referir que Nietzsche diz que a visão trágica acabou quando “o processo crítico da racionalização socrática anestesiou a força vital dos instintos (…) Sócrates é o verdadeiro adversário de Dionísio” (Ibid.). E diz mais, “Sócrates e Platão são sintomas de decadência, instrumentos da decomposição Grega, pseúdo-grego e anti-gregos” (Nietzsche, 2002:26). Ele refere que a equação socrática (razão=virtude=felicidade) é a “equação mais extravagante que existe” (Id:28). Nesta ordem de ideia, a questão que se coloca é: O que significa Sócrates na cultura Grega? Para Nietzsche, socratismo é “um sinal de declínio, de esgotamento, de doença, de dissolução anárquica dos instintos”. Porquê? “Porque ele levou todos os helenos e filósofos posteriores a pensar que devia-se crer na racionalidade a todo o custo e a combater os instintos” (Reis, 1985: 385).
Importa referir que a moral cristã, o idealismo em geral, a metafísica, “instituíram o desprezo pela vida e pelo corpo, despersonalizaram o homem pela cisão entre o sensível e inteligível”, e agora, é preciso “reinstalar o homem na terra” (Id.: 395). Em última análise, a decadência começa quando a velha Atenas baseia-se em uma só escolha, isto é, “ou perecer ou ser absurdamente racionais” (Nietzsche, 2002:31), e agrava-se quando “uma casta sacerdotal propaga a crença num além imaterial, tirando[11] a seiva vital de um povo e impedindo-o de se rejuvenescer” (Reis, 1985: 374).
2.1.3 Que propostas nos dá Nietzsche em relação ao término da crise?

Nietzsche parte do princípio de que “a civilização inaugurada por Sócrates, já não estava absolutamente convencida da eterna validade dos seus fundamentos”, isto é, “o tempo do homem socrático passou (…) surge o conhecimento trágico que reclama o remédio e a protecção da arte[12]” (Id.: 387).
No entanto, para que o homem volte a ser “livre e criador, implica a negação da moral e da religião” (cristã) “enquanto formas de auto-alienação do homem” e para tal o homem deve deixar ou inverter o “modo metafísico de pensar e isso exigia a desdivinização da criação do mundo, ou seja, a morte de Deus” (Id.: 395).
Assim, “Deus morreu e com ele morreram os valores e ideais do Homem moderno (…) a realidade e a existência não têm sentido nem valor, está à porta o nihilismo[13]”. Para Nietzsche, a morte de Deus é o “mais importante acontecimento dos últimos tempos” (Ibid.).
A questão que colocamos é: quem vai ocupar o lugar deixado por Deus?
Para Nietzsche é necessário fazer do “nihilismo da debilidade”(o mais antigo e cansado, mas que não deixa de ser prejudicial para as consciências europeias), “um nihilismo de força” (mais activo e que destrua tudo aquilo que é contrário à vida), onde a “negação é um mero trânsito, a destruição como pressuposto da criação, o `não’ como preparação para o `sim’”(Id. :393). Ou seja, “é um vazio e um máximo de novas possibilidades”, em que, agora, mais vale “o modo como os valores são instituídos”, do que simplesmente “ocupar o lugar deixado vazio pelos tradicionais valores supremos, por valores de ordem puramente humanitários” (Id.: 391).
No nosso entender, o homem deve passar a agir de acordo com os seus próprios princípios e não em concordância com uma vontade suprema e alienante, mas claro, dentro de uma liberdade responsabilizável. E são nestas condições que deve ser criado, pelo próprio homem, o Super-Homem[14]. Não obstante Nietzsche referir que “este tipo de homem de elevado valor existiu, já por mais de uma vez”, ele diz “que foi por um feliz acaso” (Nietzsche, 2000:17) e não intencional. Agora é preciso que o Super-homem seja criado intencionalmente, pois, “existe uma oculta dimensão sobre-humana na essência humana que só se revela com a morte de Deus” (Reis, 1985: 402).
Assim, para Nietzsche o “Super-homem é a contra-figura que virá preencher o vazio deixado em aberto pela morte de Deus” (Id.: 403), isto é, não a razão, mas o homem enquanto tal ocupará o centro (capaz de ser fiel a terra e não dar crédito as esperanças supra-terrenas) e Deus morto. E isso só será possível “quando deixarmos de acreditar na gramática[15]” (cf. Nietzsche, 2002:38).
Para que o mundo seja perfeito, o Super-Homem deverá reconciliar os princípios apolíneos e dionisíaco, ou seja, “será a síntese da mais alta espiritualidade com vontade de poder (…) capaz de introduzir a ordem no conflito interior das suas forças (…) é a figura suprema da pura vontade de potência[16] (Reis, 1985: 407). E neste contexto, Nietzsche distingue, no acto da vontade “uma pluralidade de sentimentos reunidos; um pensamento que ordena e comanda”, bem como “um afecto, a paixão de mandar”, pois, contrariamente a Darwin, “a vida é uma vontade de crescer” (cf. Reis, 1985: 408).
Como contemporâneo de Darwin, Nietzsche faz uma critica, argumentando que “a vida não é tanto uma luta pela autoconservação, mas antes um esforço de superação de si mesma; não é uma carência, mas uma abundância (…)”, pois, “o que a vida quer é um aumento do poder” (Id.: 374-375).
Importa referir que Nietzsche pretende substituir, não só a Deus, como também a religião com a sua doutrina de eterno retorno[17], (Ideias expostas na sua obra: Assim falou Zaratustra) ou seja, como ele próprio diz: “quero que as minhas teorias sejam a religião das almas…sublimes” (Id:413). Esta doutrina permitirá ao homem praticar acções boas, pois, caso contrário, reviverá as suas maldades. Permitirá, também, disciplinar e seleccionar o homem, com a finalidade de torná-lo mais apto, pois, “só o Super-Homem terá a capacidade de superar e viver a vida como ela é: com os eternos retornos e outros” (Id.).
Mas Nietzsche não pára por aqui. Diz ele que com estas condições criadas, a partir do nihilismo; da morte de Deus; da criação do Super-Homem; da vontade de potência e a doutrina do eterno retorno, é possível a transmutação dos valores[18] e a inversão da cultura[19]. Neste sentido, Nietzsche propõe “uma moral em que se faça elogios: do corpo, da saúde, dos gozos da carne; das paixões que passam a ser prazeres; da guerra, da dureza, bem como das naturezas fortes, dos guerreiros face aos sábios” (Id.: 421).
Neste âmbito, as inovações fundamentais de Nietzsche ou as três metamorfoses do espírito consistem em três pontos:
·Em vez de valores morais, propõe valores naturais (naturalização da moral) – usa a expressão Camelo simbolizando o espírito transformado em besta de carga que transporta sobre si fardos pesados. Este espírito diz Tu deves, ou seja, é a obediência;
· Em vez de sociologia propõe uma doutrina de modelos de senhores – usando a expressão Leão para referir a coragem e a força da vontade de poder, aquela que lhe leva a devorar o Tu deves. Este espírito diz Eu quero; (é o próprio Zaratustra[20]);
·Em vez da metafísica e da religião propõe a doutrina do eterno retorno como meio de disciplina e selecção – usa a expressão Criança que simboliza a ingenuidade, do começar de novo e do desconhecimento do ressentimento. Por basear-se na sua própria vontade, este espírito diz Eu quero (cf. Reis, 1985: 422; Nóbrega e Marques, 1997:210).
Assim, propõe que a sociedade deve ser dividida em dois grandes grupos: Grupos dos superiores, regido por uma “moral dos Senhores”; e o Grupo dos inferiores regido por uma “moral dos rebanhos”, pois, para ele, “os homens são desiguais e deve existir na cidade uma rígida hierarquia ordenada segundo o princípio de capacidade de cada homem” (Reis, 1985: 422). Importa referir que Nietzsche defende a liberdade, mas uma liberdade que “vem do corpo”( Nóbrega e Marques, 1997: 210), pois, para ele “o homem é somente o corpo e nada mais” (Mondim, s.d.:77).
2.1.4 De que nos serviria à filosofia de Nietzsche para a superação de alguns males que enfermam à sociedade moçambicana?
Partindo do pressuposto nietzscheano que reza que mesmo na ferida crónica existe uma força curativa, o grupo trouxe algumas reflexões (poderíamos trazer outras, mas cabe ao leitor fazê-las e enquadrá-las dentro desta perspectiva) em torno da problemática do HIV/SIDA e da Pobreza Absoluta no País.
No que se refere ao HIV/SIDA, a filosofia nietzscheana (a que diz sim a vida) é importante na medida em que fornece ao seropositivo o pressuposto moral, o qual advoga que, na vida, mesmo se estando num abismo infinito, temos necessariamente a obrigação de ter a vontade de viver. Para tal é necessário ter uma visão trágica, isto é, coexistir com o prazer, mas também com a dor, com o Sim, como também com o Não.
Mesmo para aquele que descrimina o seropositivo, não se deve esquecer que é sempre “possível extrair dele algo que se pode ouvir[21] (Nietzsche, s.d.: 26)”. Ou será que o facto de a pessoa humana estar infectado pelo HIV/SIDA implica que deixa de ser Ser Humano?
No respeitante a proclamada pobreza absoluta (linguagem dos discursos políticos do Presidente da República A.Guebuza), deve-se perceber ela como o único momento em que o homem pode fabricar ou produzir a sua própria riqueza a partir da sua própria criatividade, porque no nosso entender, a maior pobreza é a pessoa não ter a consciência de que é pobre, pois quem consciência tem, faz de tudo para se ver livre dela.
Como defensor da vontade individual, Nietzsche refere que o homem deve não só (con) viver com as contradições que a vida dá (maldade, bondade; tristeza, alegria; falta, abundância…), como também deve estar apto para superá-las.
O homem como não sendo um fim em si mesmo, mas um instrumento para transição para a perfeição da espécie humana (Super-Homem), precisa do outro e vice-versa para a sua projecção. E neste contexto, se a luta contra a pobreza absoluta resultar de uma conjugação de esforços individuais, onde o eu dá lugar ao outro; o meu dá lugar ao nosso; a ideia dá lugar a realidade; as reflexões filosóficas dão lugar à resultados práticos, então estaremos no caminho certo, rumo a erradicação deste mal social.
Em última análise, o que se pretende defender é a ideia de compartilhar, não só as coisas que estão no domínio da matéria (dinheiro, projectos, etc.), como também no domínio espiritual (dor, conhecimento, alegria, ideias…), pois, se nós assumirmos as causas dos outros como nossas, então todos se preocuparão com todos.








3. Conclusão
Para perceber Nietzsche deve-se ter em conta que o encontro com ele se dá num limite último e foi essa a nossa tarefa. Depois de uma longa viagem (mas não terminada) realizada ao mundo nietzscheano, sintetizamos o seguinte:
Durante o processo da formação dos primeiros saberes (Idade Antiga), nalgum momento da história, o homem teria sido induzido a deixar de ser homem (prazeres carnais, paixões, etc.) e passar a vida a contemplar, simplesmente, um além imaterial, matando, assim os instintos em detrimento da sua razão. A idade Média, aproveitando os pressupostos teóricos (filosofia de Platão e Aristóteles) deixados como herança pela antiguidade clássica, usa-os para fundamentar a sua doutrina: o cristianismo.
Na visão do nosso filosofo, a Modernidade entra em crise quando vincula nas suas abordagens filosóficas, componentes das anteriores Idades, ou seja, quando dá tanta primazia, não só a razão, como também Deus, como entidades únicas e exclusivas para a orientação do homem, fazendo crer que sem eles (razão e Deus), o homem nada seria.
É por isso que Nietzsche, através do seu método de interrogações implacáveis e duras, se questiona: o que é a vida? A esta pergunta diz ele: “a vida no sentido biológico é um apelo à libertação das forças vitais, dos impulsos e dos instintos”( Heinemann, 1979: 258). O que Nietzsche defende é a vida terrena, com todas as suas contradições, e nada mais.
Nós também subscrevemos o posicionamento do filósofo Alemão, Frederich Nietzsche.












Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola, História da Filosofia. 5ºVol., 4ª Ed., Lisboa: Editorial Presença, 2000.
HEINEMANN, F., A filosofia do século XX. 2ª Ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.
LEGRAND, Gerard, Dicionário de filosofia. Lisboa: Edições 70, s.d.
MUNDIN, B., Curso de filosofia: Os filósofos do Ocidente. 3º Vol., 6ª Ed., São Paulo: Paulus Editora, s.d.
NÓBREGA, Luísa e MARQUES, Joaquim, Introdução à Filosofia. 10ºAno, 2ª Ed., Portugal: Constância Editores, 1997.
REIS, Alfredo, Filosofia de Kant à Nietzsche. 12º Ano, 2ºvol., Porto: Edições Contraponto, 1985.
NIETZSCHE, F., O anticristo: Ensaio de uma crítica do cristianismo.10ª Ed., Lisboa: Guimarães Editora, 2000.
NIETZSCHE, F., Crepúsculo dos ídolos ou como se filósofa às marteladas. 4ª Ed., Lisboa: Guimarães Editora, 2002.
NIETZSCHE, F., Filosofia na idade trágica dos gregos. Lisboa: Edições 70, 1995.
NIETZSCHE, F., Assim falava Zaratustra. Lisboa: Guimarães Editora, 2000.
NIETZSCHE, F., Ecce Homo (como cheguei a ser o que sou). Lisboa: Edições 70, s.d.






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Apêndice
Obras que Nietzsche escreveu: O Livro do filósofo (em três volumes: 1º vol., intitulado: O nihilismo Europeu; o 2ºvol., Intitulado: Crítica dos valores superiores e o 3º intitulado: Princípio de uma nova valoração). Para além desta escreveu:
Aurora; Textos de Hermenêutica; O caso Wagner; A Genealogia da Moral; A Origem da tragédia; Ecce Homo (Como cheguei a ser o que sou); Crepúsculo dos ídolos; O Anticristo; Para Além do Bem e do Mal; Correspondência com Wagner; Ditirambos de Dionísio; A Gaia Ciência; O viajante e a sua sombra; Nietzsche contra Wagner e
Assim Falou Zaratustra.
Para dizer que foi um pesquisador e escritor de mão cheia.
Nietzsche teve influências de grandes nomes da filosofia, que se destacaram tanto na idade antiga como modernidade, como são o caso de: Heraclito; Platão; Montaigne; Spinoza; Kant; Goethe; Schiller; Schopenhauer; Heine; Emerson; Poe Wagner e Dostoiévski.
Como não podia deixar de ser, influenciou os seguintes: Rilke; Jung; Iqbal; Jaspars; Heidegger; Bataille; Band; Sartre; Camus; Deleuza; Foucault e Derrida.
O caso curioso é que Jung, Satre forma rivais de Nietzsche na vida amorosa, uma vez que, a sua molher Lou Von Salomé, se envolvia com estes ilustres, sem deixar de fora o psicólogo Segmund Freud.
Depois desta pequena invasão à vida de Nietzsche, eis algumas questões para reflexão conjunta:
1. A respeito da ética, quais são as ideias de Nietzsche?
2.Qual é o motivo que leva Nietzsche a desvalorizar a religião?
3.A liberdade é uma propriedade essencial do homem e, ao mesmo tempo, um bem que deve ser conquistado ou, pelo menos defendido. Qual é o ensinamento de Nietzsche sobre a liberdade?
4. A primazia da vontade afirmada em psicologia por alguns autores medievais (Duns Scott e Occam), adquire significado metafísico em Nietzsche, porém, o seu voluntarismo tem objectivos totalmente opostos. Qual é o objectivo do voluntarismo de Nietzsche?


[1] Autor do Trabalho que foi apresentado em um seminário na UP em 2007
[2] É a ciência que se dedica a fazer hermenêutica de textos, neste caso, interpretação de textos dos pré-socráticos.
[3] Influências expostas na obra: Origem das espécies, publicada em 1859 por Charles Darwin, sobretudo no capitulo referente a selecção natural.
[4] O entusiasmo por um autêntico contacto com os textos antigos que se verificou sobretudo em Florença e Roma depois de 1400, traduziu-se em primeiro lugar por violentos ataques a Aristóteles, e principalmente pela interpretação feita pela escolástica (ver Dicionário de filosofia de Legrand, p.333). Para Abbagnano (2000) é a atribuição de um espírito que já fora próprio do homem da época clássica e se perdera durante a Idade Média: um espírito de liberdade, pelo qual o homem reivindica a sua autonomia de ser racional e se reconhece como intimamente ligado à natureza e a história, apresentando-se resolvido a fazer de ambas o seu reino. O fim último do renascimento é o próprio Homem através do retorno aos antigos (p.15)
[5] Este termo, equivale aqui, o mesmo que fraqueza, ou seja, um processar através de um envelhecimento social em que o enfraquecimento físico de uma nação seria acompanhado de um retrocesso intelectual (cf. Reis, 1985: 374).
[6] Vontade de poder é um termo da autoria de Nietzsche que exprime simplesmente um “querer viver” (ver Dicionário de filosofia de Legrand, p.387).
[7] É o sistema político no qual o poder pertence ao conjunto dos cidadãos, ou seja, é um regime diferente da tirania, monarquia ou da aristocracia (ver Dicionário de filosofia de Legrand, p.111).
[8] cf. Nietzsche - A filosofia na idade trágica dos Gregos, p.22
[9] Princípio de destruição e de força criadora. (Dionísio era o deus grego do vinho. Combateu a soberba da razão humana através da exaltação dos instintos, do êxtase, da magia e do mistério). (ver Nóbrega, p. 206 e Reis)
[10] Princípio de ordem e medida. (Apolo de Velos era o deus grego do sol, das artes e das curas. Representava o ideal de perfeição física e intelectual) (Id.).
[11] Anote-se que na versão original é Sacando.
[12] Significa, actividade ordenada com vista a um fim diferente dela própria e cujo práticas são objecto de aprendizagem ou de ensino (ver Dicionário de filosofia de Legrand, p.48), ou seja, é ver a parte má e boa da coisa, da vida, do mundo. É também um viver e sentir ou receber um novo estímulo para novo viver, ouvir e ver (ver, Heinemann: a filosofia no século XX, p. 456).
[13] É crença na absoluta desvalorização da existência, quando se trata dos seus supremos valores reconhecidos, e por se entender que não temos o mínimo direito de estabelecer “um mais além” ou “um em si” das coisas que sejam “divino”, que seja a personificação da moral (cf. Reis, p.389). A chegada do nihilismo, significa aqui, a sua aceitação as claras, nos próximos dois séculos.
[14] Um homem que se supera a si mesmo, sem se fundamentar em valores supremos, pois, o homem não é um fim em si mesmo, mas uma ponte para um estado superior da existência. O seu ideal manifesta simultaneamente a aptidão criadora da transcendência e a sua virtual universalidade (cf. Reis, p.402-406). Este homem tem uma visão trágica do mundo, ou seja, compreende as suas contradições.
[15] No sentido de normas, impedimentos, etc.
[16] É a forma de ascensão, de elevação de si mesma, mas de forma finita (cf. Reis, p.412).
[17] É a doutrina segundo a qual, pelo facto de o homem ser finito está sujeito a reviver cada prazer, cada dor e cada pensamento na mesma ordem e sucessão (Reis, p. 412-413). Só o Super-Homem é que estará apto para viver os eternos retornos, os fracos cairão pelo caminho, será uma selecção natural.
[18] Significa atribuir validade às coisas que o cristianismo invalidou, ou seja, tudo que serve para intensificar a vida e aumentar a vontade de potência (Reis, p. 421).
[19] Entendemos como sendo a mudança da moral cristã para uma moral autenticamente humana (moral natural), ou seja, criado pelo homem para o homem.
[20] Profeta persa, autor de canções que constituem parte das escrituras sagradas da Pérsia. Supõe-se que terá sido uma figura real e que terá vivido entre os séculos VII e IX a.C. Nietzsche retirou influências para fundamentar a sua moral prática, ou seja, para este, o princípio da vida está para além do bem e do mal (Ver Nóbrega e Marques, p. 208).
[21] Termo tirado da sua obra: Ecce Homo (como cheguei a ser o que sou).

1 comentário:

Miller A. Matine disse...

Bom voltar a ler isto> mas quase choro de tanto pensar por onde passamos amigo!