quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

1.Introdução. 1
2. Enquadramento histórico da ideia da evolução. 2
2.1 Características principais do Evolucionismo. 3
2.2 As teses do Evolucionismo. 4
2.3 Os Representantes do evolucionismo e suas ideias. 5
2.4. Limitações do evolucionismo e potencialidades. 8
3.Conclusão. 10
Bibliografia. 11





























Por Herminio Nhantumbo[1]
1.Introdução
O presente trabalho de pesquisa cientifica, inserido na disciplina de Antropologia Cultural, visa essencialmente mostrar as condições, as teses, as potencialidades, as limitações e a importância que o Evolucionismo teve na formação desta disciplina como ciência autónoma, bem como trazer a superfície os contributos prático-teóricos que cada um dos antropólogos, como Tylor, Morgan e outros, deu e que fundamentam a Antropologia dos nossos tempos.
O problema da origem da espécie humana e a sua evolução é o problema que os evolucionistas propõem à solucionar, e é nossa tarefa saber em que caminhos e fundamentos se baseiam para responder à estas questões.
Como metodologias foram usadas as consultas bibliográficas e a respectiva interpretação com vista ao alcance dos objectivos acima expostos.
O mesmo está estruturado seguindo a seguinte sequência: introdução (em que falamos dos objectivo do presente trabalho), o desenvolvimento (em que fazemos abordagem do assunto propriamente dito e o corpus do texto) e a conclusão (em que damos o nosso posicionamento em relação ao assunto tratado).













2. Enquadramento histórico da ideia da evolução
Segundo Martinéz, na idade Clássica, os pensadores já se preocupavam com o problema da origem humana e do universo, como também das leis que ditam o movimento e a transformação da sociedade. Neste contexto, houve tentativa de criar teorias, como por exemplo “génesis”, “as teorias religiosas do Oriente”, “os poemas épicos da Índia, da Pérsia e Suméria” (2001:83).
Na idade Media, tanto as doutrinas de Santo Agostinho, como as reflexões da Filosofia Social, contribuíram da sua maneira, sobretudo do Árabe Ibn Khaldun (idem).
Na idade Moderna, houve contributo do iluminismo, mas sobretudo o impulso das transformações sociais como a”revolução industrial, a crescente urbanização, o crescimento da produção, da população e dos conhecimentos” serviram “como espécie de demonstração da capacidade evolutiva do Homem” (Idem).
Contudo, o passo decisivo foi dado em 1859 por Charles Darwin, ao publicar a sua obra: A Origem das Espécies, onde “expôs o conjunto das suas ideias à respeito da evolução de todas as espécies, tratou de evolução, de sobrevivência de função”. Mas, Monet Lamark é tido como o fundador da teoria da evolução (idem).
Neste contexto, o evolucionismo dominou o período da construção da antropologia e tinha como pretensão “descobrir as leis gerais do progresso humano, as leis gerais da evolução da cultura do homem” (Idem).

2.1 Características principais do Evolucionismo
São quatro as características do evolucionismo apontadas por Martinéz, as saber:
v Amplitude do objecto de estudo— isto é “o objecto de estudo era muito vasto e abrangia o fenómeno da cultura como fenómeno humano próprio da espécie humana”, pois, “visava explicar os aspectos comuns a todos os povos e mostrar as regularidades existentes no processo cultural”;
v O factor tempo – equivale referir que eles “procuraram criar um tempo novo: o tempo cultural, isto é, as fases ou estádios da evolução”;
v O método comparativo – “o evolucionismo tenta interpretar as instituições sócias para reconstituição do passado e explicar deste modo, o conhecido através do que se ignora quase completamente”
v Temas e conceitos principais – as instituições: religiosas, familiares jurídicas e aspectos da cultura material, onde em “qualquer dos temas a preocupação central era demonstrar como a cultura obedece a uma evolução Universal e unilateral”, pois como afirmava l. Morgan, citado por Martinéz, “a história do género humano é única em sua origem, única em sua experiência e única no seu regresso” (2001:85-86).

2.2 As teses do Evolucionismo

Evolucionismo Antropológico é uma teoria que afirma que “a humanidade contem em si tendências imanentes que se desenvolve à medida que a sociedade progride”. Segundo Panoff e Perrin, “este processo evolucionista é realizado paralelamente por todas as sociedades”, e corresponde “ (…) ao desenvolvimento de uma série de instituições, técnicas, crenças, acontecimentos” (1973: 70).
Partindo do principio de que “antropologia, como o conhecimento do primitivo, fica indissociavelmente ligada ao conhecimento da nossa origem, (…) das formas simples de organização social de mentalidade de que evoluíram para as formas mais complexas das nossas sociedade” (Laplantine, 2000: 65), os evolucionistas defendem que:
Existe uma espécie humana que idêntica, mas que se desenvolve em ritmos desiguais, de acordo com as populações, passando pelas mesmas etapas, para alcançar o nível final que é o da Civilização. Segundo, Laplantine, fazendo referência à Lei de Haeckel, as populações não civilizadas atravessam “as mesmas fases que a história das espécie”, ou seja, a Ontogênese reproduz a Filogênese” (Idem: 66). Estes partem do princípio de que “as mutações culturais não dependem nem do ambiente, nem da história”, mas sim “do equipamento bio-psíquico do homem”, pois para eles, “ a invenção humana era responsável pelas transformações” (Martinéz, 2001:86).
Para os evolucionistas, a passagem de uma etapa à outra segue uma linha única, ou seja, evolução unilinear, entendida como sendo o desenvolvimento que se faz “essencialmente segundo uma mesma linha directriz em todos os níveis da cultura” (Panoff e Perrin, 1973: 70).
E neste contexto, “o evolucionismo defere-se do processo histórico pelo facto de as sequências de acontecimentos aos quais se refere não serem detectáveis de forma precisa nem no tempo, nem no espaço”, pois, “apoia-se numa história hipotética” (Idem:70).
Assim, “o evolucionismo assumiu diversas formas e definiu de variada formas os estádios pelos quais deviam passar a sociedade antes de atingir (…) a civilização” (Idem: 70). E como na podia deixar de ser, vários são os nomes que contribuíram para o seu percurso e que é nossa tarefa expô-los aqui.

2.3 Os Representantes do evolucionismo e suas ideias

Os nomes que mais se destacaram nesta escola foram Taylor, Frazer, Mac Lennan, Marett, Morgan, Lubbock.
Henry Maine (1822-1888) (de origem Inglesa) na sua obra Antiga Lei, “descreve a família Indo-europeia, sustentando que a forma patriarcal da organização familiar era mais antiga” (Bernardi, 1974:178).
Mas John Ferguson MacLennan, (1827-1888), (jurista escocês que contribuiu para o desenvolvimento do Direito comparado, disciplina que iria estimular consideravelmente os progressos da Etnologia. Ocupou-se particularmente do “matriarcado, da filiação matrilinear, das diversas formas de casamento e da promiscuidade primitiva”, sem, no entanto, ter feito trabalho de campo), critica esta posição sustentando que “o primeiro estágio social tinha sido o matriarcado”, pois, segundo ele, “a primeira forma de matrimónio teria sido a promiscuidade sexual, seguida da poligamia no matriarcado (do qual via vestígios na antiga Grécia), no patriarcado (com vestígios na antiga Roma) e por fim na monogamia” (Idem).
O evolucionismo defendido por MacLennan era de que “todas as raças humanas seguiriam caminhos paralelos, a partir da Selvajaria
[2], e passando pelas mesmas etapas” (Panoff e Perrin, 1973: 117).
Esta posição foi criticada por Lewis Morgan (1818-1881), que baseou suas teorias em factos sólidos, isto é, trabalho de campo (Idem).
Morgan “popularizou a sequência dos três estádios – Selvajaria, barbárie
[3] e civilização[4]”, que supostamente marcaram os progressos da humanidade, tendo se apoiado “nos dados conhecidos da Grécia e dos Aborígenes[5] Australianos” (Panoff e Perrin, 1973:121-122). Ele “enveredou pelo estudo do parentesco, ideias expostas nas suas duas obras fundamentais: Systems of consanguinity and affinity of de human family (1871) e Anciety society (1887).
Nos seus estudos, “dois aspectos singulares (…) pareceram-lhe uma novidade. A primeira foi a nomeclatura classificatória”, que segundo ele, “representa (…) um modo particular de catalogar os parentes”, ou seja, “um verdadeiro sistema de organização por meio do qual se precisavam as relações sociais e politicas entre pessoa e pessoa e a segunda foi a descendência matrilinear” (Bernardi, 1974: 178).
Como estudioso que aprofundou o sistema social dos Iroqueses, percebeu que o parentesco entre estes “não servia só para definir as relações pessoais, mas era o princípio organizativo dos grupos sociais maiores”, designado por ele de “Fratias
[6]” (Idem).
“A terminologia classificatória e a descendência matrilinear”, levaram Morgan a concluir que “a mais antiga forma de relação sexual tivesse sido a promiscuidade e a mais antiga organização social o Matriarcado” (Idem:178-179). Assim, Morgan estendeu suas análises da sociedade para outros “primitivos”, como “populações Ameríndias” e analisou as documentações sobre populações dos outros continentes, incluindo as antiguidades clássicas, Gregas e Romanas.
Na sua obra: Anciety Society, formulou o mais elaborado e simplista “esquema evolutivo da história da sociedade humana” onde “distingue três principias estádios, acima referidos, a saber:
v Estádio Selvagem: no qual o homem vive da caça e da colheita;
v Estádio Bárbaro: no qual os meios de produção se tornam mais elaborados, coma a criação, o cultivo e a irrigação;
v Estádio Civilizado: durante a qual a introdução da máquina e a arte chegaram à plena expansão industrial (Idem: 179).
No entanto, Morgan refere que “cada um destes estádios é dividido em três graus: Antigo, Médio e Recente”, como mostra a seguinte tabela:

Estádio Selvagem




v Estádio selvagem antigo: invenção da linguagem;
v Estádio selvagem médio: uso do machado;
v Estádio selvagem recente: invenção do arco e da flecha:
Estádio Bárbaro
v Estádio Bárbaro antigo: Invenção da cerâmica;
v Estádio Bárbaro médio: criação, cultivo e irrigação;
v Estádio bárbaro recente: Laboração do ferro.
Estádio Civilizado
v Estado civilizado antigo: invenção da escrita;
v Estádio civilizado médio: pólvora, bússola papel e imprensa
v Estádio civilizado recente: maquina e industria.
Fonte: BERNARDI, Bernardo (1974), Introdução aos estudos Etno-antropologicos. Lisboa: Edições 70.

Este esquema, representado na tabela acima, “corresponde ao determinismo intrínseco ao conceito de evolução, predominante na época”. Mas hoje, Morgan é “unanimemente valorizado, por ter incluído o estudo científico e sistemático do parentesco como fundamento necessário da organização social e politica” (Idem). E é reconhecido como “percursor da Antropologia social” e a sua obra: Anciety Society, “influenciou os pensadores como Karl Marx e Frederich Engels”, porque, como escreve Harris (1968:24) citado por B.Bernardi, “abriu os olhos para a complexidade da cultura primitiva e para as suas próprias carências neste campo” (Idem: 180):
Entretanto, outro antropólogo evolucionista é J. Lubbock (1834-1913) publica em 1870 a “origem da civilização e a primitiva condição humana”onde defende que “na origem da cultura humana deve-se pressupor um estágio zero”, no que se refere a realização defende que do “ateísmo, a humanidade teria depois passado do feiticismo, ao Xamanismo, à idolatria e, por fim à ideia de Deus” (Bernardi, 1974:176).
Esta posição foi criticada por Edward Burnett Tylor (1832-1917), “que com a sua obra principal: Primitive Culture (1871), propõe” que antes é preciso “uma definição mínima de religião”, pois defendia que “a partir dos fenómenos do sonho, da alucinação, das visões e similares ao homem, teria chegado a ideia de um outro si mesmo, de uma alma e dos ser espirituais” (Bernardi, 1974: 176). É, por esta razão, que o “sistema religioso analisado por Tylor é chamado Animismo”, ou seja, “para ele é a partir do animismo que a religião evolui para o feiticismo, a idolatria, o politeísmo e (…) monoteísmo”. E partindo deste pressuposto, Tylor chega a conclusão de que “a fase monoteísta foi importada das grandes religiões monoteísta, isto é, do Ocidente”.
Importa referir que Tylor ocupa uma dimensão que se confunde com a história da Antropologia como ciência por ter sido o primeiro a definir o “conceito de cultura e pelo uso do método positivista de estudo” (cf. Bernardi, 1974:177), e é considerado o fundador da Culturologia por ter se dedicado fundamentalmente, a partir de 1871, ao estudo dos primitivos numa óptica evolucionista. (Panoff e Perrin, 1973:169). Embora tivesse feito uma descrição das suas impressões, Tylor “foi estudioso de gabinete (…) conduzia as suas analises com muita seriedade e sentido critico, comparando a documentação a fim de descobrir a série de gradações como confirmação do pressuposto evolutivo” (Bernardi, 1974:177).
Este antropólogo, foi o primeiro “a servir-se da estatística como método de estudo, como também introduziu e definiu o conceito de Sobrevivência
[7] (Idem).
R.R. Marett, Universitário Britânico que sucedeu à Tylor, em Oxford, interessou-se sobretudo pelo domínio do “sobrenatural entre os primitivos, estudando a forma como o pensamento selvagem fabrica as crenças religiosas e magicas e adere a elas”, o que lhe valeu frequentes críticas por parte de Marcel Mauss, pois, nunca fez trabalho de campo (Panoff e Perrin, 1973: 116).
Outros antropólogos que importa fazer referência nesta abordagem são: Sir James Frazer (1854-1941) (que escreveu: O ramo de ouro, estudo da magia e da religião, que defendia que “a magia é a primeira manifestação de espírito humano; a partir dela ter-se-iam desenvolvido por ordem a religião e a ciência”) e W.H.R. Rivers (1864-1922) (Que deu a antropologia “uma perspectiva histórica e não genético-evolucionista (…) nas pesquisas de campo sobre os TODA da índia Meridional e sobre os Melanésios” e por isso é recordado “por ter sido o primeiro a utilizar o método genealógico no estudo da organização social”, usando-o “para reconstituir à historia das instituições sociais”) (Idem: 181-182).
Como diz Bernardi, “com estes encerra-se a época dos grandes mestres evolucionistas”.


2.4. Limitações do evolucionismo e potencialidades
Para Bernardi, as principais limitações do evolucionismo foram nos seguintes aspectos:
Não conseguiram explicar a variedade e multiplicidade das manifestações culturais; como também tiveram incapacidade de realizar pesquisa sistemática no terreno (1974: 177).
Na visão de Martinéz, as limitações do evolucionismo foram as seguintes:
Não conseguiram explicar as razoes e causas das transformações da cultura; como também faltou-lhes rigor no emprego do método comparativo, pois segundo este, “não criticavam as fontes de informação utilizadas” (2001:86).
No que concerne as potencialidades, Marinéz refere que os evolucionistas introduziram conceitos que até hoje perduram na Antropologia como: Cultura, sistema de parentesco, evolução cultural, religião, magia, toteísmo, clã, descendência patrilinear ou matrilinear, etc.,. Contribuiu também para que se fixasse a “atenção no estudo do `exóticos ´, ` povos primitivos ´ no estudo de fenómenos contemporâneos nos seus aspectos excepcionais (unilanearidade do fenómeno cultural) (Idem). Enquanto que Bernardi refere que, foi a partir das abordagens comparativas e unitárias do conceito cultura, em Tylor, que “os Antropólogos posteriores desenvolveram novos pressupostos como: integração etnémica, a estrutura e a função, o relativismos das variantes culturais, o individuo e a comunidade”, isto com base numa “mudança de perspectiva teórica e metodológica” (1974:177).
“A escola evolucionista”, escreve Bernardi para referir a importância que teve a mesma, na formação da Antropologia como ciência, “liberta a Antropologia das ideias da simples curiosidade, encaminhando-a para novos desenvolvimentos de métodos para aprofundamento de uma problemática, em grande parte, intuída, até formulada pelos primeiros grandes mestres” (Idem:180).








3.Conclusão
O evolucionismo é uma corrente Antropológica que surge em países como Inglaterra, França e EUA, na segunda metade do século XIX, que defendia que tanto a sociedade, família, religião, como a cultura, evoluíam de maneira desigual, passando pelas mesmas etapas até chegar à civilização (como defendia Morgan), ou monoteísta (como defendia Tylor ao se referir a evolução da religião), baseando as suas teorias nas ideias expostas por Charles Darwin na sua obra monumental: A origem das espécies.
O evolucionismo criou e definiu conceitos modernos como cultura, relativismo das variantes culturais, sobrevivência, estruturas e sistemas de parentescos, o que vem a salientar a sua importância para a Antropologia Cultural como disciplina científica.
Apesar de ter sido criticada, o evolucionismo tem a fundamental importância na história do homem, por ter sido a primeira escola Antropológica a se preocupar com a questão das transformações que ocorrem numa sociedade, defendendo as suas teses com convicção. E foi a partir dele que os antropólogos posteriores partiram, claro, subscrevendo ou opondo-se as teses propostas por este.
















Bibliografia
BERNARDI, Bernardo (1974), Introdução aos estudos Etno-antropologicos. Lisboa: Edições 70.
LEPLANTINE, François (2000), Aprender a Antropologia. trad. Marie Agnes, Chauvel, São Paulo: Brasiliense.
MARTINÉZ, Francisco Lerma (2001), Antropologia cultura: Guia para estudo. 3ª Ed., Maputo: Edibosco.
PANOFF, Michel e PERRIM, Michel (1973), Dicionário de Etnologia. Paris: Payot.

[1] Autor do trabalho que foi apresentado num dos seminários na UP em 2007.
[2] Caracterizada pela ausência de objectos de cerâmica, pelo uso do arco e da flecha.
[3] Idade da cerâmica e dos instrumentos de ferro.
[4] Corresponde ao aparecimento da escrita.
[5] Indignas da Austrália
[6] Compreende todos os descendentes na mesma linha feminina duma mesma antepassada (cf. Bernardi, 1974: 178).
[7] Aspectos primitivos que se encontram nos estádios evolutivos mais avançados, como, por exemplo: as formas de superstição e de feiticismo das religiões monoteístas (cf. Bernardi, 1974: 177).

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